#2229

Produto de um trabalho de três anos numa prisão em Birmingham, ‘What Photography has in Common with an Empty Vase’ de Edgar Martins, na Galeria Filomena Soares [em Lisboa], confronta-nos com as lacunas e as possibilidades da fotografia na sua relação com o real e a ficção. […] [Segundo Edgar Martins] ‘foi um processo demorado. Tive que pedir aos guardas que me apresentassem pessoas que demonstrassem interesse em participar no projecto. A maioria era pessoas com sentenças longas, 10 a 20 anos. Não quis conhecer os motivos que os levaram ali. Fui estabelecendo relações. Ia visitá-los de duas em duas semanas. Por vezes, ia às celas. Também acompanhava muito as famílias nas visitas. E aos poucos fui, também, conhecendo-as. Visitei-as nas suas casas, durante três anos. As pessoas, as relações humanas foram fundamentais. […] Havia um recluso que pedia há dois anos para o mudarem de cela. Era muito escura, não tinha luz natural. E sempre que a família o visitava, pedia um marcador amarelo. Ora, as canetas não eram permitidas, mas foram arranjando maneira de lhas passar. E ele foi pintando a janela de amarelo, para fazer entrar o sol. Sabia que, mais tarde ou mais cedo, seria lavada, mas não desistia. E quando foi para outra cela, passou a pintar a janela de azul. […] A fotografia por natureza é violenta e sobretudo quando opera neste tipo de contextos’. […] Edgar Martins debate-se com a ausência, a insuficiência e o vazio da fotografia, mas insiste em fazer imagens. Confia na polissemia que as caracteriza, na capacidade inaudita que têm, por vezes, de falar do real, sem serem realistas. Ou seja, assumindo-se como ficção.

José Marmeleira, Ipsilon

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